terça-feira

Relatório Actividade 3º período


Educ@rtEspecial
Ano lectivo 2010/2011

RELATÓRIO FINAL DE ACTIVIDADES

1.      CONTEXTUALIZAÇÃO

TIC com Educação Especial? “Mas, estes alunos não têm competências para processar texto nem trabalhar com folhas de cálculo, alguns pouco mais escrevem para além do nome!!!”, afirmava-se em sussurro. Pois, mas é necessário trabalhar competências de comunicação, saber utilizar dispositivos e técnicas de comunicação, enfim, é indispensável SABER FAZER PARA SABER SER, neste mundo cada vez mais exigente, que espera que aqueles que foram alunos com necessidades educativas especiais, com direito a adequações de currículo, exerçam os seus direitos e deveres de cidadãos sem o auxílio de adequações na “vida lá fora”, na vida real!.
De facto, a sociedade não se compadece perante as necessidades destes a quem pensamos proporcionar as mesmas oportunidades de sucesso quando os aceitamos nas escolas e lhes reconhecemos o direito de terem mais um docente, especializado, para os ajudar na sua missão de serem alunos, ao abrigo de um decreto-lei que os “protege”, numa escola que visa, essencialmente, o sucesso escolar. No entanto, (infelizmente) eles vão crescer e, um dia, deixarão de ser alunos “integrados” na escola e terão que ser cidadãos autónomos e “integrados” na sociedade. Deixarão de ter alguém “especializado”, mas terão que FAZER e SER. Por isso, se é necessário repensar a forma como a escola educa os seus alunos em geral, é imprescindível alterar significativamente a qualidade da Educação que proporcionamos às nossas crianças e jovens com necessidades educativas especiais.
            Na escola reconhece-se que todas as crianças e jovens têm direito à educação, independentemente das suas características e necessidades, e que o nosso dever, enquanto Educadores, é o de partir da sua individualidade, predispondo-os para uma aprendizagem activa e efectiva. No entanto, o que fazemos na realidade é neutralizar a individualidade e normalizar o processo de ensino–aprendizagem, em todas as suas componentes! Afinal, os alunos são normais, nenhum precisa de nada de especial para aprender!
            Felizmente, há crianças e alunos que não são “normais”, são “especiais” porque são diferentes! Felizmente, para estes alunos é lícito proporcionar-lhes experiências de aprendizagem activas e efectivas, porque podemos recorrer a um sem fim de metodologias e estratégias que os predispõem para a aquisição de um conhecimento significativo, do qual necessitam para se tornarem verdadeiros cidadãos na sociedade a que pertencem.

2.      O PROJECTO

Porquê TIC com Educação Especial?
No início, foi uma ideia embrionária, um sonho tosco partilhado, uma possibilidade!  Ninguém sabia muito bem o queria, só sabia que queria... Mas, saber esperar para concretizar, tornou-se uma arte…, e dessa sedução partilhada resultou a junção das Artes ao Educ@Especial, transformando-o em Educ@rtEspecial: "Queira eu, queiras tu para sermos nós, queiramos mais, queiram os outros connosco, …!”
E, assim, começou este Projecto: Integrar pessoas e serviços, recursos e disciplinas, para dar forma ao exercício da Educação tal como a pensamos: por todos e para todos.
Quisemos todos, e uma simples ideia tomou dimensões, já não de uma simples articulação dinamizada por um conjunto de sonhadores, nascido entre a Educação Especial, as Artes e as Tecnologias de Informação e Comunicação, mas da integração no projecto global do agrupamento de escolas, o tão discutido Projecto Curricular Integrado (PCI), pelo que os autores e dinamizadores, estrelas principais deste projecto ganharam rosto!
Mas ainda não foi esta a forma definitiva, foi necessário (re)adaptar, desapareceram alguns colaboradoes, surgiram outros... formou-se uma equipa pedagógica e lançaram-se mãos à obra.
Tudo começou com a exploração de um livro para se chegar ao primeiro “produto”: o primeiro e-book, pensado pela Mesa de Trabalho. O produto ficou fantástico, mas muito mais o foi todo o processo desenvolvido. Os alunos, que primeiro diziam “Eu não sei desenhar”, foram encorajados a procurar, no google, a imagem que pretendiam e depois a percorrê-la com o rato, antes de tentarem desenhá-la na placa digitalizadora. Os desenhos que resultaram dessa exploração dizem quase tudo, só não conseguem “dizer” a alegria, o entusiasmo, a excitação, por vezes o empolgamento que resultava de qualquer tentativa bem sucedida, e que dispensava qualquer elogio! Não dizem, também, da mescla de diversão e cansaço que a quase todos atingiu. Não dizem, ainda, da vontade que ficou, depois do DIA, de fazer algo DIFERENTE com os materiais que tinham produzido.
E a partir dos desenhos para o e-book “Não Faz Mal Ser Diferente”, surgiram réguas, marcadores, calendários… e, por fim, a divulgação dos materiais produzidos, através de todos os suportes possíveis, desde a publicação no blogue, passando pela newsletter distribuída para toda a comunidade educativa do Agrupamento de Escolas do Vale de S. Torcato, até culminar na exposição efectuada no bar, no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.
E a Educação Especial foi exercida, ao longo de todo o ano, com base neste projecto. Não houve fichas fotocopiadas, não se utilizou o computador para jogos, não se recorreu aos manuais escolares do 1º ciclo. Não nos contentámos com pouco, levámos todos e cada um dos nossos alunos a dar o máximo de que era capaz para receber aquilo de que necessitava. O elogio que se segue, automaticamente, a qualquer acção por eles praticada, foi subsituído pela auto-avaliação; progressivamnete, eles foram acreditando que, afinal, também são capazes. E assim se trabalhou  a auto-estima e a auto confiança. Os grafismos foram substituídos pelos desenhos feitos no paint, utilizando a placa digitalizadora. E assim se trabalhou a grafomotricidade, as formas geométricas, as cores, os tamanhos, a orientação espacial, a orientação temporal...um sem número de competências gerais e específicas... como que por milagre, eles, que têm tanta dificuldade na atenção e concentração, estavam horas empenhados nas tarefas!!!
E nunca mais nada foi como dantes!

3.      O EDUC@RTESPECIAL NO ECO-ESCOLAS

            Porque diferente, na forma e no conteúdo, o Educ@rtEspecial ganha visibilidade. Muitos se questionam “É possível, na Educação Especial!?”, ou ainda “ E são os alunos que fazem?”. A dúvida dissipou-se e eis que acontece uma EXPLOSÃO DE ENERGIA, num Comboio que arranca a todo o vapor!!!
Fomos protagonistas de uma candidatura ao concurso “O Código da Energia”, imagine-se… em colaboração com o Programa Eco–Escolas, cujos responsáveis acreditaram, partilharam e se integraram de forma entusiasmante, e de algum modo atónitos com as propostas que todos os dias saltavam por iniciativa deste grupo de jovens, ultrapassando largamente o contexto de simples concurso. De um elementar panfleto e um autocolante solicitado, rapidamente se constituiu a “Brigada da Energia”, crescente no número de participantes, e a locomotiva avançou, interiorizando-se uma necessidade que é de todos - Poupar Energia para Proteger o Ambiente.
Com a colaboração dos alunos do Curso de Educação e Formação OISI, sob a responsabilidade do professor José Fernandes, e outros alunos das turmas do 6.ºano de escolaridade, sob a responsabilidade do professor Raul Freitas, partiu-se da planta da escola, contaram-se os interruptores e computadores, produziram-se sinaléticas e autocolantes distribuídos por todos os espaços escolares, e o resultado foi, mais uma vez…, explosão de energia, entusiasmo, alegria, sorrisos no olhar, e sobretudo conhecimento adquirido a brincar, sem livros e instruções, sem adultos a dar ordens, porque a ordem imposta era o ritmo dos próprios jovens, embarcados numa aventura sem fim, onde a correria e o rir à gargalhada não estavam proibidos, assim como entrar alegremente pelos espaços até então interditos, como sejam o gabinete da direcção e gritar: “Bom dia, somos a Brigada da Energia!”, ou ainda a sala de professores, os gabinetes administrativos, e tantos outros. E esta onda, nascida de forma espontânea, com a colaboração de muitos, ultrapassou os muros de um espaço que muitos preferem ignorar, que pensam invisível, intocável… como se a diferença, de repente, pudesse assumir proporções de contágio.
E eis-nos perante mais um dos impactos provocados pela explosão da energia da nossa Brigada! Surgem novas vontades: já sabem como poupar energia, agora querem perceber como ela se produz. E agora? Agora que eles já se sentem protagonistas da sua própria aprendizagem, já não é possível entretê-los com abordagens infantilizadas, a fórmula “... para crianças” já não os satisfaz...
Uma vez mais, integrou-se, partilhou-se, expandiu-se: a energia levou-nos para outros espaços, com outros colaboradores e, no âmbito do “Espaço J” e numa perspectiva construtivista de ensino/aprendizagem, desenvolveu-se um conjunto de actividades experimentais com as diferentes fontes energéticas, relacionadas com as energias alternativas, no intuito de desenvolver capacidades cognitivas e relacionais com os alunos que protagonizam o “Educ@rtEspecial”.
O conjunto de experiências a desenvolver pretendeu: fomentar a curiosidade e o ensino da ciência, de forma lúdica, em diferentes espaços, sala de aula e exterior; proporcionar a aquisição de conhecimentos acerca dos diferentes tipos de energia e a compreensão da sua importância para a manutenção da vida no planeta terra; criar oportunidades para os alunos adquirirem e desenvolverem as suas potencialidades, melhorando os seus conhecimentos, enriquecendo os seus modelos mentais, e incrementando habilidades na manipulação de materiais e objectos; desenvolver a capacidade de previsão e curiosidade sobre o mundo que os rodeia.
Poderemos dizer que as actividades experimentais, enquanto processo e método de descoberta, promovem excelentes condições para uma aprendizagem centrada na acção e uma reflexão sobre a própria acção, ou seja, os alunos aprendem a fazer fazendo. Digamos, também, que estas proporcionam a interdisciplinaridade e promovem o desenvolvimento intelectual dos alunos, favorecendo outras aprendizagens. Mais, foram uma panóplia de oportunidades para, de forma integrada, desenvolver as competências gerais e específicas da Educação Especial.


4.      REFLEXÃO FINAL

O que foi o Educ@rtEspecial? Um Projecto? Um Espaço? Um conjunto de Actividades? Uma Ilusão? Um Sonho?
Foi isso tudo e muito mais!!! Foi um projecto DIFERENTE, único, partilhado, construído e reconstruído, tantas vezes quantas as que, para nós, fez sentido enquanto projecto dinâmico e integrado no Projecto Curricular do nosso Agrupamento.
Foi, também, um projecto grandioso, uma ideia que cresceu sob a forma de sonho, partilhado primeiro a dois, depois a três, a quatro… até culminar em algo de tal forma espectacular que consegue surpreender-nos, a nós, equipa pedagógica.
Este é um exemplo, concreto e já experienciado, de como é possível Educar, de facto, crianças e jovens com Necessidades Educativas Especiais que beneficiam de um Currículo Específico Individual; de como se pode (e deve) operacionalizar a Inclusão; de como é possível (e tão gratificante!) utilizar uma pedagogia verdadeiramente diferenciada; de como os princípios que presidem ao desenvolvimento de um Projecto Curricular Integrado – Adequação, Relevância, Articulação Vertical, Articulação Horizontal, Articulação Lateral, Equilíbrio, Flexibilidade e Proporção – estão presentes em todos os momentos e em todas as componentes deste projecto.
Foi, de facto, um projecto diferente, para alunos diferentes…
            Neste projecto, nada foi normalizado: nem a metodologia, nem as estratégias, nem os materiais, nem as tecnologias, nem as disciplinas envolvidas neste Educ@rtEspecial: Educação Especial, Tecnologias de Informação e Comunicação e Artes Decorativas! Não foi um projecto de e para apenas uma turma, um grupo, um departamento, foi um Projecto que se socorreu de todos os serviços que uma escola pôde e quis disponibilizar para desenvolver o currículo de um grupo de alunos, de uma forma sempre integrada e plena de significado para eles.
            Neste projecto, não houve fichas fotocopiadas, iguais para todos, para que todos persistam, afincadamente, em executar a tarefa que os mantêm ocupados, preenchendo desenhos ou grafismos, para que todos eles continuem a tentar, a tentar, a tentar... até que consigam aprender os conteúdos académicos que andam a “ensinar-lhes” há seis ou oito anos e que, apesar de “todos os esforços”, eles ainda não conseguiram!
            Neste projecto, eles aprenderam, porque foram ouvidos, porque lhes foi permitido expressarem-se através de múltiplas linguagens, porque lhes foi perguntado o quê, quando, como, com quê, para quê, em suma, eles fizeram o seu próprio projecto individual, participando num projecto colectivo.
            Neste projecto, eles aprenderam, porque os seus Educadores os viram como Indivíduos e tiveram a sensibilidade necessária para se aperceberem da imensa riqueza que encerra a diferença de cada um!
           
            Educ@rtEspecial?
            Sim, sempre!!!
            Esta é, apenas, uma pequena amostra do muito que se fez ao longo do ano lectivo numa escola que apostou nas TIC como promotoras da Autonomia, da Cidadania e da Literacia. A divulgação de todo o processo teve lugar nas Jornadas Culturais, através do lançamento de uma publicação, à qual chamamos, orgulhosamente, Livro! Através dele, pretendemos mostrar não apenas os trabalhos efectuados pelos nossos alunos no âmbito das diversas actividades inseridas no projecto mas, essencialmente, dar a conhecer uma forma diferente de Educar crianças e jovens com Necessidades Educativas Especiais que beneficiam de um Currículo Específico Individual. Também não pretendemos que esse Livro fosse visto como um manual de trabalho para a educação especial, precisamente porque a Educação Especial não pode obedecer a receitas, a formatações, ela é ESPECIAL, porque é DIFERENTE, e é assim que a vemos, a pensamos e a exercemos!
          
Julho de 2011
A equipa pedagógica

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