quarta-feira

Não faz mal ser diferente

Texto criado para integrar o prefácio do livro "Não faz mal ser diferente", criado pelo grupo do projecto Educ@rtEspecial, enquanto adaptação da obra de Todd Parr.
Maria Helena Soeiro, Dezembro de 2010
helenasoeiro07@gmail.com


O que é ser diferente?
É, talvez, a verdade mais absoluta do universo e, paradoxalmente, a que mais preconceitos suscita.
A diferença é imprescindível à individualidade, é o que nos torna seres únicos, especiais porque diferentes, nem melhores, nem piores, apenas diferentes. E é no confronto com o outro que nos formamos como pessoas, seres pensantes e actuantes.
Habitualmente, a palavra “especial” comporta, implicitamente, uma conotação com agradabilidade... um dia especial, um sítio especial... porque houve algo diferente.
Por sua vez, a expressão “normal” evoca rotina, sensaboria, nada de novo... no entanto, mesmo na normalidade há sempre algo diferente, embora de tal modo ínfimo que nem o retemos como tal, é apenas mais um dia “igual” a tantos outros, nada o torna digno de menção ou lembrança...
A vida em sociedade assenta no pressuposto de que a normalidade é benéfica para todos os que nela se integram, pelo que a diferença se torna incómoda, ao invés de especial, é anormal, estranha, causa desconforto, incompreensão pelo desconhecimento que acarreta. Há, portanto, que limar as diferenças e normalizar torna-se a palavra de ordem. Mas, afinal, a sociedade não é formada por um conjunto de indivíduos? Aceitamos a norma quando nos é conveniente mas rejeitamo-la quando a nossa individualidade é posta em causa! E a mesma incongruência está patente no nosso confronto com o outro, o especial, o diferente, aquele que persistimos em tornar igual  a nós, através de processos sempre iguais aos que utilizaram connosco!
A vida na escola, inevitavelmente, reflecte  o modus actuandis da sociedade: reconhece-se, com uma boa dose de hipocrisia, que todas as crianças e jovens têm direito à educação, independentemente das suas características e necessidades, e que o nosso dever, enquanto Educadores, é o de partir da sua individualidade, predispondo-os para uma aprendizagem activa e efectiva. No entanto, o que fazemos na realidade é neutralizar a individualidade e normalizar o processo de ensino–aprendizagem, em todas as suas componentes! Afinal, os alunos são normais, nenhum precisa de nada de especial para aprender!
Felizmente, há crianças e alunos que não são “normais”, são “especiais” porque são diferentes! Felizmente, para estes alunos é lícito proporcionar-lhes experiências de aprendizagem activa e efectiva, porque podemos recorrer a um sem fim de metodologias e estratégias que os predispõem para a aquisição de um conhecimento significativo, do qual necessitam para se tornarem verdadeiros cidadãos na sociedade a que pertencem. Felizmente, há pessoas especiais, que concebem projectos especiais e os implementam de uma forma especial!
Neste projecto, nada é normalizado: nem a metodologia, nem as estratégias, nem os materiais, nem as tecnologias, nem as disciplinas envolvidas neste Educ@rtEspecial: Educação Especial, Tecnologias de Informação e Comunicação e Artes Decorativas!
Neste projecto, não há fichas fotocopiadas, iguais para todos, para que todos persistam, afincadamente, em executar a tarefa que os mantém ocupados, preenchendo desenhos ou grafismos, para que todos eles continuem a tentar, a tentar, a tentar... até que consigam aprender os conteúdos académicos que andam a “ensinar-lhes” há seis ou oito anos e que, apesar de “todos os esforços”, eles ainda não conseguiram!
Neste projecto, eles aprendem porque são ouvidos, porque lhes é permitido expressarem-se através de múltiplas linguagens, porque lhes é perguntado o quê, quando, como, com quê, para quê... , em suma, eles fazem o seu próprio projecto individual, participando num projecto colectivo.
Neste projecto, eles aprendem porque os seus Educadores os vêem como Indivíduos e têm a sensibilidade necessária para se aperceberem da imensa riqueza que encerra a diferença de cada um!

Educ@rt’Especial?
Sim, sempre!!!
Afinal, a Educação Especial não é aquela que se destina aos alunos com Necessidades Educativas Especiais. A Educação Especial é especial porque traz aquela conotação implícita, que nos emociona e desafia, que nos motiva por ser e poder ser diferente, que nos faz vibrar de alegria perante cada pequena vitória, que faz os nossos olhos brilharem perante as surpresas que, todos os dias, os nossos alunos nos reservam.

Não faz mal Ser Diferente?
Depois de ver este primeiro trabalho (ebook) , só podemos concluir que, afinal,  É Bom Ser Diferente!
Pena é que todos os outros alunos da nossa escola não sejam diferentes!

Maria Helena Soeiro

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